O celular é um dos poucos divisores de água entre o mestre saveirista Antônio Jorge de Jesus, de 45 anos, e o tio dele, Eufrásio de Jesus, 69. Eufrásio veleja desvinculado da tecnologia, enquanto Jorge só sai de telefone na cintura.
Principalmente a bordo do saveiro Sombra da Lua, uma embarcação com cerca de 85 anos com a qual ele e outros sete tripulantes vão participar da 44ª Regata Aratu-Maragojipe, neste sábado, 24, a partir das 11 horas.
“Também só uso o celular para ver as horas, receber ligações e falar com as pessoas”, afirmou Antônio Jorge, que aprendeu com o tio a velejar sem depender da tecnologia e a resistir a um celular equipado com GPS.
“A gente não tem GPS, usa a cabeça. O nosso GPS está no juízo”, declarou mestre Eufrásio, que navega desde os 15 anos usando elementos da natureza ou as próprias construções em terra para se orientar.
Basicamente, ele observa como está a onda, de qual direção vem o vento e faz uma linha imaginária entre o mar e a terra para saber o melhor trajeto para a antiga embarcação.
A sabedoria do mestre Eufrásio vem sendo passada por ele a várias gerações, dos filhos aos sobrinhos e netos. Como nem tudo é perfeito, ele só não conseguiu convencer a mulher, Rita Veloso, a subir a bordo.
“Um dia de quarta-feira, ela viu o vento deitar o saveiro e as ondas encobrirem tudo, e pensou que ia emborcar”, lembrou Eufrásio. Depois disso, não tem quem faça a mulher trocar a viagem de carro pelo barco.
Já o sobrinho Antônio Jorge, que não abre mão do celular, aderiu à estratégia pessoal para evitar a perda de aparelhos.
Celulares afundaram
Pelos cálculos dele, nos últimos cinco anos seis aparelhos foram parar no fundo do mar, durante as travessias entre Maragojipe e Salvador. De tanto ter de comprar outro aparelho e recuperar o número do telefone, mestre Jorge encontrou outra utilidade para o preservativo íntimo.
“Eu compro camisinha e uso no celular. Se cair na água, não molha, e eu ainda posso falar sem tirar a proteção”, explicou Jorge, que aprendeu o truque com outro amigo pescador.
“Quando ele cai com a gente viajando não tem como pegar. Se cair no fundo, também. Mas no raso, não. Teve um celular que caiu na Ilha de maré e recuperei”, contou o saveirista.
Depois disso, reduziu o prejuízo e a preocupação em manter o telefone no bolso, já que precisa dele para avisar os clientes do desembarque em segurança de cargas de cerâmica e outros materiais.
“A gente leva 16 toneladas aí dentro”, contou Jorge, que em 2011 ficou três dias ‘sumido’ da família. Ele perdeu o leme e o saveiro afundou oito metros perto da Ilha dos Frades.
A carga de cerâmica foi tirada, mergulhando ele e o companheiro, oito metros abaixo, até o barco. Já o resgate, foi pedido pelo celular, que, protegido pelo preservativo, não molhou.
44ª edição da regata terá três largadas
Largada - Da Bahia de Aratu, com três saídas por classe, às 10h, 10h30 e 11h.
Embarcações - São esperadas 300 (veleiros, escunas, saveiros e barcos a motor) para cerca de 1.500 velejadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Alagoas, e dos EUA, França, Inglaterra e Nova Zelândia.
Percurso - 32 milhas náuticas (60 km) passando pela Ilha de Maré, dos Frades, Itaparica e Ilha do Medo, Rio Paraguaçu, Ilha do Francês e Forte da Salamina, até a raia de chegada em Maragojipe
Fonte: A Tarde