Por Gilson Jorge (A
Tarde)
A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que
completa 10 anos de fundação no próximo dia 29 de julho, está ajudando a
dinamizar o mercado imobiliário nas cinco cidades da região em que está
presente. A chegada de professores e estudantes, além de gente que chegou para
trabalhar em grandes obras, como o Gasoduto do Nordeste e o estaleiro Enseada
Indústria Naval, em Maragogipe, tem mudado a paisagem em algumas cidades. O
aluguel, em alguns lugares, valorizou-se em 60%, fora os casos em que o preço
foge de qualquer lógica econômica.
Em Santo Antônio de Jesus, considerada "capital"
do Recôncavo", há 16 empreendimentos imobiliários em construção, entre
loteamentos e condomínios, sendo comercializados pela corretora Mário Assis,
pioneira da cidade. A crise econômica esfriou momentaneamente o apetite por
compras, mas o mercado de aluguel continua aquecido.
"Quem vem como professor ou estudante normalmente só
parte para comprar algo depois de três ou quatro anos, quando tem certeza de
que vai ficar por mais tempo", avalia o corretor de imóveis Mário Assis,
um dos pioneiros do setor e dono de uma das maiores corretoras da cidade.
Assis destaca que o comércio tradicionalmente pujante de
Santo Antônio de Jesus já havia criado uma elite econômica que, muitas vezes,
prefere investir em imóveis em Salvador e em outras capitais brasileiras. Mas a
chegada do campus da UFRB e a construção de um estaleiro em Maragogipe
trouxeram um novo fôlego ao mercado imobiliário local.
Com uma nova classe média surgida na última década, Santo
Antônio de Jesus ganhou projetos de prédios de 12 andares, como o Torre
Inglesa, e já possível ver anúncios de apartamentos na cidade por R$ 370 mil.
"Mas o que tem se destacado por aqui é a oferta de loteamentos e
condomínios", afirma Mário Assis. Sua corretora comercializa atualmente
unidades em 16 empreendimentos imobiliários no município, desde projetos de
alto padrão a conjuntos do Minha Casa, Minha Vida.
Lançado em 2014, o Arvoredo Castanheira é um condomínio
fechado com academia de ginástica, piscina com raia para prática esportiva,
espaço gourmet, brinquedoteca e áreas de lazer para idosos. O lote custou R$
130 mil.
Parte desse movimento se deve à instalação da Enseada
Indústria Naval (antigo Estaleiro Enseada do Paraguaçu), que levou milhares de
profissionais para Maragojipe, a 79 quilômetros de Santo Antônio de Jesus, que
herdou parte considerável das intenções de compra e construção de imóveis.
"O movimento de venda caiu muito depois da crise, mas fui informado de que
a situação vai se normalizar em fevereiro", disse Assis.
A Enseada Indústria Naval tem como sócias majoritárias a
Odebrecht, a OAS e a UTC, empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, além
da empresa japonesa Kawasaki.
Prédios verticais
Em Cruz das Almas, que abriga a reitoria da UFRB, a presença
de imóveis de melhor padrão de construção desde 1975, quando foi inaugurada a
Embrapa Mandioca e Fruticultura, que conta com um quadro fixo de 227
funcionários, sendo 70 pesquisadores de alto nível.
"A chegada da universidade ajudou a movimentar o
mercado e hoje a cidade já tem até prédios verticais", assinala o corretor
de imóveis Crispim Almeida, o primeiro a se estabelecer no ramo em Cruz das
Almas e que, com o desenvolvimento do município, já vê jovens que foram seus
estagiários atuarem como concorrentes no mercado. "Na verdade, somos
parceiros", brinca Almeida.
Mesmo em cidades menos prósperas a pressão exercida pela
chegada de instituições de ensino ou grandes empresas ajudaram a levar os
preços de aluguel para patamares raros em uma cidade do interior da Bahia. Em
Santo Amaro, que vai receber um núcleo de pesquisadores para averiguar os
efeitos da contaminação ambiental por uma fábrica de chumbo, não é difícil ver
proprietários pedindo R$ 1.200 pelo aluguel de uma casa de dois quartos com
piscina. Uma tendência que, segundo fontes do mercado, foi inaugurada quando a
Petrobras se instalou na região para construir o Gasoduto Sudeste Nordeste
(Gasene), que cruza o Recôncavo a caminho de Catu.
Santo Amaro também tem sido procurada como moradia por
estudantes de países como Moçambique e Angola que se matriculam no campus de
São Francisco do Conde da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (Unilab).
Em Cachoeira, a presença de tanta gente de fora depois da
chegada da universidade levantou a discussão sobre a elitização da cidade
histórica. Mas para os moradores de uma cidade que não oferece muitos postos de
trabalho alugar a casa acaba sendo uma fonte de renda bem-vinda.
"As cidades que se tornam polos educacionais e de
serviços de saúde se transformam em bons mercados imobiliários. É o que está
acontecendo no Recôncavo", afirma o presidente do Sindicato da Indústria
da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon), Carlos Henrique Passos.
Fonte: A
Tarde
Nenhum comentário:
Postar um comentário