Importantes entrepostos comerciais entre Salvador e
o interior do estado até o século passado, municípios do Recôncavo baiano como
Maragojipe, Cachoeira e São Félix agora se preparam para viver uma nova fase,
após décadas renegados ao esquecimento: o ciclo da indústria naval. A economia
da região já sente os impactos positivos com a construção do Estaleiro Enseada
do Paraguaçu (EEP) no distrito de São Roque, localizado em Maragojipe.
O estaleiro, que fabricará navios petroleiros e de
guerra e fará a manutenção de equipamentos navais, já começará a produzir no
início do ano que vem, somando um investimento total de R$ 2,6 bilhões.
Atualmente, em sua fase de construção, o empreendimento já gera 2,5 mil
empregos. Até fevereiro, esse número mais que dobrará, chegando a 6 mil. Na
fase de produção plena, a partir de 2015, 4 mil empregos fixos serão gerados.
O estaleiro tem sido visto por empresários e pelo
poder público como o principal vetor para transformar a região em um novo polo
de desenvolvimento industrial. No entanto, vários desafios, como a melhoria da
infraestrutura e a qualificação profissional da população local, precisam ser
alcançados.
“Por sua magnitude, esse empreendimento coloca essa
região em posição de destaque e também põe a Bahia à frente do processo de
retomada da indústria naval no país”, considera o vice-presidente da Federação
das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Reinaldo Sampaio.
O empresário acredita na chegada de novas indústrias
aos municípios próximos. “O estaleiro deve influenciar a chegada de indústrias
de navipeças (peças para navios), a indústria metal-mecânica, de componentes
elétricos e o setor da Tecnologia da Informação, por exemplo”, prevê.
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes
Lojistas da Bahia (FCDL), Antoine Tawil, acredita que o estaleiro também tem o
potencial para movimentar o comércio local. “Nessa primeira etapa de
construção, o estaleiro vai demandar de tudo, desde gêneros alimentícios a
itens de vestuário e produtos de higiene pessoal”, enumera.
“Para isso, o comércio local tem o desafio de se
estruturar, desenvolver-se e aumentar sua capacidade de abastecimento. Serão
milhares de novas pessoas na região demandando esses produtos”, diz.
Para Tawil, a segunda etapa trará novos desafios.
“Quando o estaleiro começar a produzir e com a instalação da mão de obra mais
especializada, haverá grande necessidade de profissionais liberais:
cabeleireiro, dentistas, advogados”, prevê.
Segundo ele, Maragojipe, que possuía 42.815
habitantes no censo de 2010, poderá até dobrar de população. Segundo a
prefeitura do município, a arrecadação com impostos também deverá dobrar no
médio prazo, dos atuais R$ 5 milhões para R$ 10 milhões.
Qualificação
A chegada do estaleiro também é vista como uma retomada da cadeia da indústria
naval já existente no local. No entanto, para que empresários e, especialmente,
a população local colham bons frutos com a chegada do estaleiro, vários
desafios precisam ser superados. “A formação de pessoal é um desafio muito grande
que temos pela frente”, admitiu o diretor de Relações Institucionais e
Sustentabilidade do EEP, Humberto Rangel.
Como contrapartida de concessões fiscais concedidas
pelo governo estadual e pela prefeitura de Maragojipe, o estaleiro deve
empregar moradores da cidade em pelo menos 40% da mão de obra.
Hoje, na fase da construção civil, esse número já
foi superado: proximadamente 60% dos 2,5 mil funcionários do estaleiro são de
Maragojipe e região. Mas a maior preocupação está na fase de produção, que exige
mão de obra mais especializada.
O período de produção final só se consolidará em
2015, mas já terá início em janeiro de 2014 – quando as obras de construção
ainda estarão em curso, mas uma parte do empreendimento começará a montagem de
seis navios-sonda encomendados pela empresa Sete Brasil, em um contrato de US$
4,8 bilhões.
Há temor de que os esforços do estaleiro, da
prefeitura e da Fieb para capacitar os moradores locais não sejam suficientes
para garantir que a contrapartida de empregar mão de obra local seja cumprida.
“As primeiras duas turmas estão sendo formadas, mas ainda não temos um espaço
físico próprio para essa capacitação”, disse o secretário de Governo de
Maragojipe, Gilberto Sampaio.
Se não tivermos gente suficiente capacitada
para trabalhar no estaleiro, não poderemos obrigá-los a contratar as pessoas
daqui”, lembra. Segundo o secretário, hoje um grupo de 60 pessoas está sendo
formada no município, algo bem longe da meta para a fase de operação.
“Calculamos que temos que formar 1.600. Mas isso vai depender de adaptar o
espaço da nossa escola profissionalizante”, diz.
A gerente de Pessoas e Organizações do estaleiro,
Márcia Lapa, considera a qualificação dos trabalhadores o “principal desafio”
da empresa. Hoje, o estaleiro já possui um programa interno, chamado Acreditar,
para captar novos talentos e ajudá-los a conseguir um emprego no
empreendimento.
Nova
vida
Após seis anos desempregada, a soldadora Antônia Cristina, 33, participou
do programa e garantiu uma vaga nas obras do EEP. “Entrei aqui no dia 18 de
janeiro como soldadora. Com o salário, de R$ 1.770, comecei a construir minha
casa, um sonho de muito tempo”, contou. “Agora, já vou começar a construir o
segundo andar”. Ela pretende continuar estudando e se qualificando para
garantir um futuro próspero. “Conhecimento ninguém tira da gente, não é?”, diz,
sorrindo.
Para o professor de História da Universidade Federal
do Recôncavo Baiano Walter Fraga, a chegada do estaleiro pode voltar a
movimentar a economia de municípios como Cachoeira e São Félix, mas é preciso
planejamento para evitar que essas cidades virem apenas a periferia de
Maragojipe. “A circulação de riquezas apenas não é suficiente. Um projeto
concreto que inclua as populações locais nesse processo é o grande desafio”,
diz.
Infraestrutura
é desafioOutra questão vista como essencial por empresários é
a melhoria do acesso rodoviário ao estaleiro. Hoje, a BA-534, uma estreita via
que liga a BA-001 às obras, está completamente esburacada e os
congestionamentos de caminhões são frequentes. A estrada, que passa por
municípios próximos ao empreendimento, como Salinas da Margarida, é de passagem
obrigatória para quem sai da zona urbana de Maragojipe no sentido do estaleiro.
O governo do estado já iniciou as obras para
melhorar a via, mas o empresariado teme que a pista muito sinuosa e estreita
não seja suficiente para suprir as demandas do estaleiro. Ainda estão previstos
o alargamento e a pavimentação asfáltica dos últimos 5,4 quilômetros da pista.
Uma ponte sobre o Rio Baetantã, que liga São Roque a Salinas da Margarida,
também será finalizada até outubro de 2014.
Enquanto isso, os empresários do estaleiro têm
preferido apostar no transporte aquaviário para os trabalhadores. Mesmo assim,
somente a integração entre os diferentes modais é vista como uma solução
definitiva para o acesso precário à região.
Dessas melhorias depende, por exemplo, o transporte
de alimentos produzidos na região, como raízes, carne de fumeiro e frutas
cítricas.
Programação
MANHÃ
9h - Abertura Presidente da Rede Bahia, Antonio
Carlos Júnior, governador da Bahia, Jaques Wagner, e prefeito de Salvador, ACM
Neto
9h30 às 10h10 Os Desafios da Política de
Desenvolvimento Regional - José de Freitas Mascarenhas, presidente da Federação
das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb)
10h20 às 12h Painel I: Complexo Industrial de
Camaçari, um Exemplo de Desenvolvimento Regional na Bahia.
- Moderador, Reinaldo Sampaio, vice-presidente da
Fieb
- Debatedores
*José de Freitas Mascarenhas
*Ana Carolina Viana, diretora Industrial
(Unib/Braskem)
*Shirley Silva, consultoria
Ernst & Young Brazil
TARDE
14h às 14h40 Os Desafios da Competitividade no
Brasil
- Claudio Frischtak, presidente da Inter.B
Consultoria de Negócios
14h50 às 15h10 Uma Nova Era para o Recôncavo, Sul e
Baixo Sul
- José Sergio Gabrielli, secretário estadual de
Planejamento
15h10 às 15h30 Terminal de Regaseificação da Bahia
(TRBA)
- Hugo Repsold Junior, Petrobras
15h30 às 17h30 Painel II: Fim da Guerra Fiscal: A
Infraestrutura como Diferencial Competitivo de uma Região
Debatedores:
*José Sergio Gabrielli
*Hugo Junior
*Matheus Oliva, vice-presidente da Intermarítima
Fonte: Correio*
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